segunda-feira, 26 de maio de 2008

A linguagem indireta e as vozes do silêncio

A linguagem indireta e as vozes do silêncio, texto de Merleau Ponty, no traz colocações fantásticas acerca da linguagem e suas formas de expressão, tanto no texto como na imagem.

Primeiramente ele trata da linguagem na qual a disposição dos signos jamais pode ser considerada a parte sendo, portanto, definida pela maneira como se portam uns com os outros. Dessa forma, a linguagem não pressupõe correspondente, podendo falar por si própria e aos mais variados níveis de indivíduos, sendo ela (a linguagem), uma forma discreta ou indireta de dizer o que se pensa. No entanto, a linguagem não copia o pensamento. Ela é feita e refeita por ela, trazendo o seu sentido implicitamente. Só há vida e movimento na fala, por exemplo, porque o pensamento reveste a linguagem.

O ponto de intersecção entre a linguagem e a pintura surge no momento em que se admite que a imagem fala. Não se trata somente de uma técnica pura e fria, no caso da imagem como pintura. Há uma expressão criativa por parte dos autores a fim de trabalhar os sentidos e a percepção humana, os quais estão intrinsecamente ligados ao mundo da arte.

No entanto, esse processo de expressão do autor não se dá de forma imediata. Ele conquista um estilo através de experiências com a pintura e com o mundo. ”Todo estilo enforma elementos do mundo que permitem orientá-los para uma de suas partes essências”. “O estilo de cada pintor reside no sistema de equivalências que se estabelece para esta obra de manifestação, no índice universal da “deformação coerente...”.

Admite-se, portanto, que existe um labor, um pensar significativo por parte do pintor e que se concebe uma linguagem da pintura. Esta, além de expressar por si mesma, nos permite inúmeras variações de sentidos e percepções através de uma infinidade de signos. “Aos seus olhos, a obra não está nunca terminada, mas sempre em curso, de modo que ninguém pode antepô-la ao mundo...”.

Dos acontecimentos do mundo ás formas de expressão. Tudo se torna um sistema de significantes “Viver na pintura é respirar ainda este mundo, sobretudo para quem nele vê alguma coisa a pintar, e todo o homem traz um pouco deste olhar.” Este olhar ao qual Ponty se refere, é tratado de forma mais extensa em um outro texto, de mesma autoria, O olho e o espírito, no qual ele nos explicita que não há visão sem o pensar, e portanto o trabalho do artista é também de reflexão, e explica o papel do que ele chama de visão interior tanto do autor quanto do observador. “... enquanto pinta, o pintor, qualquer que seja, pratica uma teoria mágica da visão.” (O olho e o espírito- Merleau Ponty).

Diante de todos esses pensamentos sobre a imagem quanto a sua concepção criativa, consciente e a sua recepção, torna-se indispensável que uma obra de arte possua, como expressa Meleau Ponty, além de idéias, matrizes de idéias, que nos forneçam significações e sentidos que não parem de se desenvolver, nos ensine a ver um mundo interior e nos propicie o pensar a partir da própria obra analisada.

Nenhum comentário: