sexta-feira, 27 de junho de 2008

Para a conclusão da matéria Teorias da Imagem, ministrada pelo professor Otávio Filho, foi solicitada a composição de uma produção imagética, que contemplasse a imagem na contemporaneidade, tratando da relação entre esta e a tecnologia e suas conseqüências sobre o homem e a sociedade em que está inserido. Visando atingir tal objetivo, compomos um pequeno vídeo que trata da obra de arte na era da reprodutibilidade, e de sua relação com as novas tecnologias assim como das possibilidades de interferência e construção de novas imagens a partir de uma matriz.
Para exemplificarmos tal acontecimento, escolhemos o mais conhecido quadro de Leonardo da Vinci: Mona Lisa. Este quadro é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, senão, o quadro mais famoso de todo o mundo. Poucos outros trabalhos de arte são tão controversos, questionados, valiosos, elogiados, comemorados e exaustivamente reproduzidos como demonstramos em nosso trabalho.
Essas inúmeras reproduções e sua utilização na publicidade, nos objetos do dia a dia e nas adaptações por outros artistas, transformaram-na em referência cultural. Dessa forma, o quadro mais célebre do mundo, adquiriu um estatuto de ícone cultural. Essas reproduções podem ser encontradas em diferentes locais e nas mais inusitadas situações, tanto com finalidade artística, comercial, como objeto de status intelectual e inclusive como Kistch. Esse fenômeno é possibilitado pelas novas tecnologias de captação, edição e veiculação de imagens, aproximando essas obras da massa.
Walter Benjamin em seu texto “A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica” afirma que a obra, com o advento da reprodução, perde sua unicidade e conseqüentemente sua autenticidade, tornando-se independente do original aproximando-se assim do espectador. Dessa forma, o que é atingido na obra de arte, segundo Benjamin, é a sua aura, fazendo com que ela se torne humanamente mais próxima, depreciando o caráter daquilo que só é dado uma vez.
Essas reflexões, contextualizadas na atualidade, suscitam um questionamento sobre a autoria da obra. Uma vez que as reproduções feitas a partir de uma matriz podem se tornar novas obras ou suscitar novas reproduções, o processo de reprodução torna-se não linear dificultando o reconhecimento de um único autor.
Ainda nesse contexto de reprodução e adaptação das obras, escolhemos para compor a trilha sonora de nosso vídeo, a 5° sinfonia de Beethoven adaptada pelo artista norte-americano Steve Vai. Dessa forma, comprovamos que o advento da reprodutibilidade está presente nos mais diversos setores do universo artístico.
É fato que a tecnologia está presente em nossas vidas e que interfere, invariavelmente, em diversos aspectos do nosso cotidiano inclusive na nossa forma de criar e propagar idéias artísticas. Sendo assim, demonstramos em nosso vídeo como a imagem, enquanto obra de arte, foi atingida e redefinida pela tecnologia.



segunda-feira, 26 de maio de 2008

Site com coletâneas de textos de renomados autores que tratam sobre o Renascimento

Mitos, Emblemas, e Sinais - Morfologia e História - Carlo Ginziburg

Ginzburg em seu texto, “De A. Warburg a E. H. Gombrich: Notas sobre um problema de método ”faz uma conexão entre Aby Warburg a Gombrich, acerca dos estudos de ambos os pensadores sobre arte, imagem, e em especial o Renascimento. Dentro desse contexto, o autor destaca problemáticas que envolvem o método da obtenção de fontes históricas por meio de testemunhos figurativos.

Realizando estudos sobre o Renascimento, Warburg debruçou-se sobre a presença da cultura clássica nas obras renascentistas, ou seja, a sobrevivência de formas de um tempo passado em outro. Dessa concepção, surgiu uma teoria sobre os mecanismos de transmissão da memória coletiva por meio das imagens.

Em O ritual da Serpente – texto que posteriormente ele utilizaria para convencer seu psiquiatra de sua sanidade mental- ele conclui que existe uma força psíquica das imagens, e que nelas há uma relação com os medos mais intrínsecos da humanidade. Portanto, as imagens teriam sua formação através de motivações psíquicas ligadas a um determinado período histórico, que foram transportadas para outras culturas, e que nesta seriam reordenadas a partir de conteúdos psíquicos de acordo com o novo contexto em que se encontram. Cada símbolo registrado através dos tempos conviria com um arquivo da memória coletiva. Esta ciência da imagem possuía um caráter inovador e essencialmente interdisciplinar.

Panofsky nos apresenta a distinção entre iconografia e iconologia e defronta com a dificuldade de uma acepção puramente formal devido a ambigüidade causada pela imagem. Somente em outro patamar será possível conceber o caráter unitário do conhecimento de mundo da obra de arte. Saxl ao se apoderar da utilização de formas secundárias, cai numa circularidade da análise dos testemunhos figurativos.

Gombrich procura sair subjetividade e sua leitura e critica a facilidade das conexões feitas pelos autores citados no parágrafo acima. Defende que a obra Warburg não tinha nenhum caráter sistemático, e quanto ao caráter artístico pondera que a arte não é uma imitação da realidade, devendo-se levar em conta o conjuntura cultural e social, e que o estilo seria a constituição de um padrão relacional.

É incontestável a importância das pesquisas dos autores relacionados anteriormente, com relevância a Warburg, que nos legou a Biblioteca Warburg situada atualmente em Londres, além de toda a sua herança em inúmeras pesquisas na área das ciências humanas. A partir das considerações do autor do texto, Carlo Ginziburg, se torna simples a compreensão e a interligação entre a s obras desses pensadores.

Georges Roualt - The old King


"Já que profundidade, cor, forma linha, movimento, contorno, fisionomia são ramos do Ser, e cada um deles pode reproduzir toda a ramagem, em pintura não há 'problemas' separados, nem caminhos verdadeiramente opostos, nem 'soluções' parcias, nem progresso por acumulação, nem opção sem recuo."( Merleau Ponty- O olho e o espírito)

Ingres - La Gran Odalisque - 1814

O olho e o espírito

Em o olho e o espírito, Merleau Ponty, faz em sua introdução um pensamento sobre a ciência clássica, a ciência contemporânea e a arte. Destaca que antes com uma opacidade do mundo, a ciência hoje está extremamente sensível às modas intelectuais, e localiza diante disso o papel da arte.

Tratando-se posteriormente da visão, e especificamente o lugar e importância que ela ocupa no universo artístico, o autor nos diz que a pintura reforça a visibilidade natural do mundo através de uma visibilidade secreta, e de que essa visão é uma operação do pensamento. Acerca do papel do pintor ele elucida: “Emprestando seu corpo ao mundo é o pintor que transforma o mundo em pintura”.

Cita a descoberta de um mundo exterior e a utilização da linguagem indireta para expressar as idéias pensadas. Sugere a existência de um terceiro olho, uma visão interior, dita do espírito, alcançada somente através do exercício. Só se aprende a ver, vendo. Trata também da inspiração e de como as coisas olham para os pintores para que estes as transmitam para o mundo. “ Isso a que se chama inspiração deveria ser tomado ao pé da letra: há deveras inspiração e expiração do Ser, ação e paixão tão pouco discerníveis, que já não se sabe mais quem é visto e quem pinta e quem é pintado...”.

Em outro capítulo faz uma crítica baseado na Dióptrica de Descartes, na qual nos diz que o modelo cartesiano da visão é o fato, e que este não vê, no espelho, nada além do seu exterior. “... a pintura não é para ele uma operação central que contribua para definir o nosso acesso ao ser; pé um modo ou uma variante do pensamento canonicamente definido pela posse intelectual e pela evidência.

É tratado posteriormente sobre a cor, o desenho e a perspectiva, o que para Descartes possibilita uma evidência que não se pode pintar senão coisas existentes. No entanto, fazendo contraponto desta idéia, o autor nos explica que a projeção plana nem sempre excita o nosso pensamento a reencontrar a forma verdadeira. Não há visão sem pensamento, mas também não basta pensar para ver. Tratando-se de visão e imagem, o documentário, Janelas da Alma, de João Jardim, faz esse balanço entre ver o concreto e o subjetivo através de milhares de pontos de vista, seja ele do espectador ou do artista.

Em outro texto, A linguagem indireta e as vozes do silêncio, Merleau Ponty nos coloca que a pintura moderna não está somente para a subjetividade assim como a clássica não está somente para a representação objetiva. Essa metamorfose se dá por ela mesma e entre o mundo e a arte. Sobre esse aspecto da modernidade ele nos traz como exemplo a finalidade a utilização das linhas e cores ;ilustrando em um exemplo perfeito sobre os contornos de Ingres e Roualt.

Dessa forma, observamos que o movimento, a linha e a perspectiva, buscam muito mais que a representação ou imitação. Para, além disso, há uma busca interior, do espírito, para designar cifras secretas em uma linguagem única chamada Arte.

A dúvida Cézanne - Merleau Ponty




No texto de Merleau Ponty, A dúvida de Cézanne nos deparou mais uma vez sobre a imagem e suas formas de concepção e execução, assim como sua relação com o autor e com a linguagem expressiva utilizada.

Um gênio abortado, assim como denominou Zola, amigo íntimo de Cézanne, tinha além de sua genialidade, muitas dúvidas e incertezas acerca de si mesmo e do mundo real, e para, além disso, como expressar e retratar todas essas sensações e formas de pensamentos.

Característico de todo artística, e tratando-se especificamente do pintor, sempre surgem as dúvidas, angústias e incertezas de como transmitir e expressar com cores e pincéis o que se deseja. Para Cézanne, não se deveria escolher entre a sensação e o pensamento, e sim através de percepções pessoais transformadas em sensações, criar uma obra inteligível. Portanto, concebe-se a idéias de que o autor sente, interpreta e, sobretudo, pensa antes de suas criações artísticas.

Cézanne propõe uma contemplação perante a natureza, a fim de perceber o mundo interior, e através destas impressões e sensações, atingir assim a concepção e representação da realidade. “Se o pintor que exprimir o mundo, é preciso que a composição das cores traga em si este Todo indivisível; de outra maneira, sua pintura será uma alusão ás coisas e não as mostrará numa unidade imperiosa, na presença, na plenitude insuperável que é para todos nós a definição do real.”

Exprimir o mundo através da pintura de maneira e deixar que a obra fale por si mesma (resultado das percepções do mundo e íntimas do autor) é um dos pontos tratados no texto. Em outra obra do mesmo autor (Meleau Ponty) “A Linguagem indireta e as vozes do silêncio” ele nos contempla que “... o que o pintor põe no quadro não é o eu imediato, o matizar-se do sentir, mas seu estilo, que conquista tanto por seus experimentos quanto pela pintura dos outros e do mundo...”.

Assim sendo, há uma produção e expressão de pensamentos e não apenas uma arte recreativa. A incerteza e a solidão permearam a vida do gênio Cézanne, que julgava-se impotente por não conseguir pintar o mundo, tocar a cada um da maneira que queria e de forma real.Muito além de exprimi a realidade, pintores como ele não expressam idéias mas as posteriorizam, enraizando consciências, despertando experiências, animando para outrem as próprias imagens construídas.

A linguagem indireta e as vozes do silêncio

A linguagem indireta e as vozes do silêncio, texto de Merleau Ponty, no traz colocações fantásticas acerca da linguagem e suas formas de expressão, tanto no texto como na imagem.

Primeiramente ele trata da linguagem na qual a disposição dos signos jamais pode ser considerada a parte sendo, portanto, definida pela maneira como se portam uns com os outros. Dessa forma, a linguagem não pressupõe correspondente, podendo falar por si própria e aos mais variados níveis de indivíduos, sendo ela (a linguagem), uma forma discreta ou indireta de dizer o que se pensa. No entanto, a linguagem não copia o pensamento. Ela é feita e refeita por ela, trazendo o seu sentido implicitamente. Só há vida e movimento na fala, por exemplo, porque o pensamento reveste a linguagem.

O ponto de intersecção entre a linguagem e a pintura surge no momento em que se admite que a imagem fala. Não se trata somente de uma técnica pura e fria, no caso da imagem como pintura. Há uma expressão criativa por parte dos autores a fim de trabalhar os sentidos e a percepção humana, os quais estão intrinsecamente ligados ao mundo da arte.

No entanto, esse processo de expressão do autor não se dá de forma imediata. Ele conquista um estilo através de experiências com a pintura e com o mundo. ”Todo estilo enforma elementos do mundo que permitem orientá-los para uma de suas partes essências”. “O estilo de cada pintor reside no sistema de equivalências que se estabelece para esta obra de manifestação, no índice universal da “deformação coerente...”.

Admite-se, portanto, que existe um labor, um pensar significativo por parte do pintor e que se concebe uma linguagem da pintura. Esta, além de expressar por si mesma, nos permite inúmeras variações de sentidos e percepções através de uma infinidade de signos. “Aos seus olhos, a obra não está nunca terminada, mas sempre em curso, de modo que ninguém pode antepô-la ao mundo...”.

Dos acontecimentos do mundo ás formas de expressão. Tudo se torna um sistema de significantes “Viver na pintura é respirar ainda este mundo, sobretudo para quem nele vê alguma coisa a pintar, e todo o homem traz um pouco deste olhar.” Este olhar ao qual Ponty se refere, é tratado de forma mais extensa em um outro texto, de mesma autoria, O olho e o espírito, no qual ele nos explicita que não há visão sem o pensar, e portanto o trabalho do artista é também de reflexão, e explica o papel do que ele chama de visão interior tanto do autor quanto do observador. “... enquanto pinta, o pintor, qualquer que seja, pratica uma teoria mágica da visão.” (O olho e o espírito- Merleau Ponty).

Diante de todos esses pensamentos sobre a imagem quanto a sua concepção criativa, consciente e a sua recepção, torna-se indispensável que uma obra de arte possua, como expressa Meleau Ponty, além de idéias, matrizes de idéias, que nos forneçam significações e sentidos que não parem de se desenvolver, nos ensine a ver um mundo interior e nos propicie o pensar a partir da própria obra analisada.